28 de Agosto de 2012
E hoje, 12-12-12, já que o mundo não acabou, vou contar mais um pouco desta viagem que se aproxima do fim! Desta vez é mesmo história até ao Natal! 😀
Naquele dia eu iria começar a desvendar os mistérios de um país de que se fala pouco! Parece que ninguém vai passar férias para Bélgica, não se lê nada de especial sobre ela e isso desperta-me muito mais interesse do que aqueles sítios onde toda a gente vai, em tom de missão motociclista!
Então daria uma bela volta por alguns sítios que estudei em casa e outros que se atravessassem no meu caminho e a que nunca resisto!
Segui para Veurne, que em francês se diz Furnes, nunca hei-de entender estas línguas que dizem as coisas de maneira tão diferente!
Veurne chamou-me a atenção pela sua arquitetura simpática de ruelas acolhedoras a fazer lembrar Brugge. Na realidade é uma cidade renascentista em tijolo amarelado! A igreja gótica de St Walburga em tijolo vermelho chama a atenção!
Não se podia visitar, estava lá dentro um funeral… parece que morreu muita gente por ali naqueles dias, pois não foi o único funeral que encontrei!
A cidade não é a coisa mais extraordinária de se visitar por isso, depois de uma voltinha, segui para Ieper, por caminhos interessantes!
Ieper é uma cidade muito mais monumental, embora o principal se encontre num espaço limitado!
A cidade esteve no centro de diversas guerras e batalhas pela sua posição estratégica junto da Alemanha. Todo o centro histórico foi já um monte infinito de escombros…
Depois da Primeira Guerra a cidade foi reconstruida fielmente pelos desenhos e fotos da época, com dinheiros da Alemanha, que não respeitou a neutralidade do país e fez da cidade, além de um campo de batalha, um local de experiências, onde gazes foram usados sobre soldados e população!
O Palácio do Pano, segundo a tradução, é imponente e cheio de placas que honram quem morreu para libertar a cidade!
A Catedral de Saint Martin gótica do séc. XIV é um dos edifícios mais altos da Bélgica e fica logo ali ao lado!
Passear por ali e imaginar que aquilo já foi campo de várias batalhas teve um efeito em mim!
Na catedral que, por acaso já não é catedral e sim proto-catedral, estava mais um funeral!
(Proto-Catedral quer dizer que já foi catedral e já não é, porque para ser catedral tem de ter um bispo residente e certamente já não há um por lá!)
Não tive coragem de entrar por isso andei no perímetro a cuscar o exterior!
A Cruz Irlandesa, em honra dos Irlandeses mortos por Ieper…
E a Praça do Mercado é muito bonita e acolhedora. Ninguém imagina que tudo aquilo foi destruído e reconstruido há menos de um século!
E ao sair da cidade, em direção a Tournai, a torneira mais famosa lá da zona lá estava no meio de uma rotunda!
Mas, como era de esperar, o caminho é feito de cemitérios e memoriais aos mortos de todos os países que ajudaram a libertar Ieper. Este seria mais um dia que eu passaria “rodeada” por memórias da Primeira Grande Guerra…
Como o Kasteel Zonnebeke – Memorial Museum 1917, que conta as cinco batalhas de Ieper… mas eu não quis ver e apenas visitei os jardins…
E os cemitérios militares sucedem-se pelas ruas que fui percorrendo…
Até eu não parar mais para ver mais nenhum….
E chegar finalmente a Tournai!
Uma cidade que viveu 18 séculos de história bem variada e cheia de reveses, mas que preservou o seu carisma de cidade de arte! É uma das 2 cidades mais antigas do país e permanece um polo cultural importante.
A catedral de Nôtre Dame de Tournai é uma estrutura extraordinária e impressionante! Em pedra negra, sobressai do perfil da cidade como um ser vivo que tudo observa! Conhecida como a catedral das cinco torres, foi construída no séc. XII em três estilos ainda visíveis: a nave é românica, mais antiga, o coro, ou altar é gótico, mais recente e um estilo transitório entre os dois liga estes grandes elementos da construção, no transepto. Hoje está em restauro profundo, que a trará de novo a toda a sua magnificência e imponência! Da Grand Place a catedral imensa sobressai acima de tudo, Christine Lalaing em primeiro plano, a princesa heroína e guerreira que defendeu a cidade contra invasores na ausência do marido, parece apontar para ela!
Christine Lalaing
E fui à procura do colosso! Desde a primeira vez que eu vi uma imagem daquela catedral eu quis vê-la ao vivo!
A gente vê-a por cima de tudo e depois tem de dar a volta e procura-la no meio das ruelas e casinhas!
E de perto, junto da entrada principal, nem parece o colosso que é!
O portal trabalhado pede restauro…
E é o que está a acontecer por estes dias!
Um altar lateral, no transepto, está a servir de altar-mor, enquanto este está subterrado em andaimes!
Curioso encontrar uma escultura dedicada a Roger de la Pasture, um pintor flamengo que tem obras famosíssimas, algumas no nosso museu da Gulbenkian! A bem dizer eu nunca tinha reparado que ele nascera em Tournai! 😮
Voltando à Grand Place ainda deu para brincar um pouco com a água que saia de repente do chão!
É permitido estacionar numa parte de praça e o conjunto formado pelos carros e pelo património é, no mínimo, curioso!
Ainda dei uma vista de olhos á igreja de Saint Quentin, uma igreja românica do séc. XII!
E lá estava o rio Scheldt, a parecer um canal!
E não se consegue ficar indiferente à catedral que se vê de todos os pontos da cidade!
E mais monumentos que lembram quem morreu na guerra, aparecem em Tournai também!
“Esquecer o passado é aceitar o seu regresso!” (Winston Churchill)
Triste mas real e presente por todo o lado naqueles países que tanto sofreram nas guerras…
(continua)