10 – Passeando até à Suiça 2012 – Thonon-les- Bains, Genève

*
*

5 de Agosto de 2012 – continuação

A ponta norte da Route des Hautes Alpes eu já conhecia por isso andei por ali a inventar pois há diversas possibilidades de ruas a escolher. Claro que eu escolho sempre as mais estreitas, menos concorridas e longe de tudo! Gostos!

Percorrer sem pressas estradinhas cheias de curvas que nos levam de terrinha em terrinha e de monte em monte é delicioso!

alt=”” />

Fui brincar um pouco pelo Col des Aravis que não tinha ninguém!

Mas havia muita humidade no ar e eu temi pela minha novíssima máquina fotográfica, por isso não tirei muitas fotos!

Andava por perto de Annecy e Megève, uma cidade ficava-me à esquerda e outra à direita! Ambas são bonitas mas decidi não ir a nenhuma! Eu queria mesmo chegar ao lago…

Há uns castelinhos por ali que são um encanto na paisagem e eu segui de um para outro.

O Chateau Fèodal D’Avulli é simplesmente delicioso, um castelinho do Sec XII que apetece fotografar até à exaustão!

Fica em Brenthonne e funciona como restaurante! A mim bastava-me olha-lo de todos os ângulos e fotografa-lo, já que visitar estava fora de questão.

Tem à entrada do seu jardim um par de guerreiros em topiária engraçados!

E é lindo!

Mais à frente ficava Thonon-les-Bains, onde eu passaria a noite e o castelo de Ripaille, onde viviam os Duques da Saboia.

Os domínios de Rippaille são um importante sítio histórico, que já esteve abandonado mas foi totalmente restaurado há 2 seculos e hoje é esta beleza de construção, com restaurante a funcionar e os domínios a visitar!

Mais à frente, um outro castelo encantador ainda, no Parc Municipal de Montjoux, o castelo de Montjoux, mesmo na beira do lago!

São lindos e adoráveis estes castelos por serem tão diferentes dos nossos e do que estamos habituados a ver por cá!

E segui até Genève, passando por Yvoire, aquela cidade encantadora na margem francesa do Lac Leman, porque passando perto não consigo deixar de lá entrar!

Esta pequena aldeia medieval fortificada está classificada como uma das aldeias mais bonitas de França e também no concurso promovido pelo pais para as aldeias e cidades mais floridas!

A verdade é que é tão florida, colorida e bonita que até parece irreal!

E tem também o seu castelinho!

O lago, que parece uma piscina de tão limpo, e os patinhos a embelezar o ambiente!

Tudo parece perfeito por ali! Só peca por ser um local muito visitado e estar sempre cheio de gente o que me tem sempre impedido de visitar o jardim dos 5 sentidos, que diz quem já visitou, é um miminho!

A primeira perspetiva que tive da aldeia, há muitos anos quando tinha chegado a Genève havia poucos dias, foi esta, a partir do ancoradouro, pois fui até lá num cruzeiro no lago. E tudo me pareceu irreal de tão belo! Hoje continuo a sentir o mesmo, cada vez que lá passo!

Foi em Yvoire, há muitos anos, que eu comprei o meu segundo chapéu, nesta chapelaria “Chapeaux à gogo” que quer dizer algo tipo “chapéus a granel”!

Pormenores giros que se encontram por lá, coisas que vou vendo, coisas que ainda não tenha visto!

Não falta onde deixar a motita por ali, com direito a tratamento vip!

Segui então para Genève…

É sempre aquela sensação voltar à cidade, as ruas, o trânsito, os pormenores cheios de sentido…

Fui visitar velhos amigos, velhos recantos da minha história…

O tempo estava a escurecer e a pôr-se negro, uma pena porque eu queria ver o pôr-do-sol no lago, com todo o encanto que já assistira tantas vezes…

Voltei ao “meu jardim” como faço sempre… gosto de terminar o dia ali, mesmo sem sol, mesmo com pingos de chuva, gosto!

Não voltaria a Genève durante esta viagem…

Fim do sétimo dia de viagem

9 – Passeando até à Suiça 2012 – La Haute route des Alpes – Col du Galibier

*
*

5 de Agosto de 2012

O dia amanheceu meio solarengo, meio enevoado e pingão. É verdade, isso acontece a cada passo nas altas montanhas. Naturalmente que o lado solarengo chamava muito mais alto por mim mas, azar dos azares, era pelo lado pingão que eu devia seguir! Ainda pensei em contrariar o percurso mas eu teria de ir apanhar a chuva de uma maneira ou de outra, não adiantava dar uma volta maior, por caminhos menos bonitos!

Por isso dei por ali umas voltas, retive a respiração e mergulhei! Iria ver o Lago Leman ainda naquele dia…

A cidade de Briançon é muito bonita de apreciar de longe, com o forte sobre uma colina mais elevada e a cidadela mais em baixo, parece um cenário!

Uma pena os fios, sei lá de quê, que estragam um enquadramento destes!

Ao longe o conjunto da “ville Haute”, o forte do castelo, o forte des Salettes e o forte des Têtes.
Com uma longa história de guerra e defesa da fronteira francesa, passou por momentos históricos fortes, desde a idade média, passando pelas guerras mundiais e chega aos nossos dias como cidade de ski e desportos de inverno e cheia de monumentos únicos e classificados!

E segui para o lado do tempo ruim, para o col du Galibier, esperando que a chuva não fosse tanta que me impedisse de ver e fotografar um pouco…

Então comecei a encontrar uma infinidade de motos! Parece que de repente toda a gente ia para onde eu ia!

Depois entendi… era domingo e o povo tinha tirado o dia para ir correr para ali! Ultrapassei e fui ultrapassada diversas vezes por esta moto bizarra, que era mais uma moto de 4 rodas do que verdadeiramente uma moto 4! O tipo devia ficar muito incomodado sempre que eu ia à frente dele pois esforçava-se para caramba para voltar a vir-se meter na minha frente! Por vezes obrigou-me mesmo a travar para ele entrar!

Não me lembro nunca de me ter sentido tão pressionada por outros motociclistas para os deixar passar para o espaço à minha frente onde por vezes não cabia ninguém… detestei a sensação! Não sei se era por eu ser a única moto com um “P” atrás, ou se era por ser mulher, ou se era por a minha Magnifica ser a única no seu estilo/tamanho por ali… só sei que detestei!

Um dos que me apertou, ao ponto de quase me tocar na roda da frente, encontrei-o no chão umas curvas mais à frente! No final da aventura, contando com os 2 acidentes do dia anterior, tinha passado por 6 motos viradas de pernas para o ar, 2 das quais com pendura incluída… Ainda bem que a estrada valia a pena ou ter-me-ia arrependido de a ter feito naquele dia!

Então encontrei a chuva! E foi ela que afastou todo aquele “mosquedo” de mim! (obrigada São Pedro) De repente vi-me sozinha na estrada, apenas eu e alguns carros, as motos iam ficando paradas aos grupos aqui e ali, já não havia mais heróis capazes de se meterem à minha frente? Não, porque chovia bastante, o vento era forte e eu aproveitei para seguir em paz!

E constatei uma triste realidade para um(a) motociclista, que os automobilistas eram muito mais cuidadosos e atenciosos para mim do que todos aqueles motards! Faziam o esforço por se chegar para a beirinha cada vez que eu me aproximava, davam-me pisca a mandar-me passar e tudo! Veio-me diversas vezes à mente aquelas tretas que circulam no Facebook de que motociclista é boa pessoa, é solidário, é amigo, segue códigos de conduta, é irmão… é muitas vezes reles, mal criado e arrogante, cá e lá… infelizmente! E foram os enlatados os melhores colegas de estrada que podia ter tido por ali!

E segui na maior paz, apesar da chuva e dos trovões em cima de mim, é que o São Pedro não parava de me tirar fotografias, eu bem via os flashes!

Cheguei lá acima sozinha! Havia lá um ciclista acampado, alguns carros e a minha Magnífica!

Ninguém na longa e ziguezagueante rua! Não havia mais heróis!

Por muito tempo apenas se via um carro aqui e outro ali e a paisagem era linda!

É tão bonito quando para de chover e o sol volta, a estrada brilha e o céu fica límpido!

As esculturas em feno são comuns, a cada ano vejo-as pelas estradas Francesas, os camponeses são artistas!

Passei em Valloire mas nem parei! Aquilo estava cheio de motos paradas por causa da chuva e eu já estava fartinha de motos e habilidades!

Só voltaria a parar quando chegasse ao lago Leman…

(continua)

8 – Passeando até à Suiça 2012 – La Haute route des Alpes – Col de la Bonette

*
*

4 de Agosto de 2012 – continuação

A princípio a estrada é quase banal, escarpa aqui, monte ali e nada mais denuncia o que ela será mais à frente! Eu nunca tinha feito a “ponta” sul por isso tinha de ir atenta, mas a estrada é fácil de encontrar e de seguir, porque está muito bem sinalizada e, mesmo quando a gente não tem a certeza se fez a boa escolha num entroncamento, uma nova placa aparece logo à frente a desfazer as dúvidas!

Então vamo-nos afastando de Nice e vamo-nos aproximando da beleza da natureza em estado puro!

E há momentos de dilema, curtir a estrada ou apreciar os encantos da paisagem? Vou tentando fazer um pouco de tudo, tirando fotos pelo meio!

A estrada é suficiente longa para permitir um pouco de atenção a tudo o que nos vai rodeando mas, por vezes, tive de parar abruptamente porque um recanto da paisagem me prendeu pelo canto do olho!

No seculo XIX viviam nestas casas cerca de 800 soldados que defendiam a zona fronteiriça, é o Camp des Fourches. No inverno apenas um pequeno grupo de homens ficava ali isolado do mundo pela neve e só conseguiam passar de casa em casa por tuneis feitos na neve alta e densa com tabuas de madeira. Chamavam-lhes “les Dilabes Bleus” (os diabos azuis) pela sua coragem e audácia de ali ficarem e caçarem e viverem!

A estrada parece traçada nos recantos mais bonitos da cordilheira!

Há momentos em que olhamos para trás e vemos o caminho percorrido, serpenteando pelo monte acima!

Então chegamos ao cume

A estrada é mítica para ciclistas e às vezes temos a sensação de que eles sentem que ela lhes pertence! Tive de pedir para se afastarem um pouco para fotografar o “menir” que assinala o ponto máximo mas, mesmo assim, tive de gramar com as biclas lá encostadas!

Mas o encanto contínua, numa nova sequencia de curvas e encantos

A estrada continuava a serpentear por ali fora, linda!

E fui surpreendida pelo primeiro acidente da viagem. Vi as pessoas ao longe e não percebi o que se passava, até passar perto… uma moto de pernas para o ar e um casal meio em mau estado na berma… Eu não teria tirado a foto se soubesse o que se passava, mas não apanhei os feridos, o que foi menos mal…

Mais à frente fica o Forte de Tournoux encrustado no monte. É conhecido por lembrar os templos do Tibete mas, na realidade, é uma construção do fim do sec XVIII e tinha como finalidade proteger a França contra os Italianos.

Tem visitas guiadas e deve ser interessante visita-lo, mas subir todo o monte por escadas estava fora de questão!

E lá andavam os ciclistas por tão belas paisagens a pedalar

A estrada torna-se perigosa quando deixa de ser “cadenciada” por curvas e os condutores se entusiasmam com as retas, sem pensarem que, depois de uma reta há sempre uma curva!

Depois há momentos em que ela parece uma linha num bolso, de tanta volta que dá sobre si própria!

E quanto mais voltas dá mais bonita é a paisagem!

E cheguei a Briançon, onde passaria a noite.

Briançon pertence ao Departamento dos Altos-Alpes e é a cidade mais alta de frança e a segunda mais alta da Europa, depois de Davos na Suíça.

Porque fica ali tão perto da Itália é uma cidade bastante fortificada, com uma cidadela cheia de interesse e edifícios classificados pela Unesco.

Fui para o hotelzinho, onde rapidamente a minha motita arranjou uma filinha de amigas!

Comi uma pizza divinal e brinquei um pouco com a minha máquina, que as nuvens acima da montanha estavam inspiradoras!

Fim do sexto dia de viagem!

7 – Passeando até à Suiça 2012 – Passeando pelo Mónaco

*
*

4 de Agosto de 2012

E mais uma vez a motita deu o dito por não dito e amanheceu como se nada fosse! Tive de concluir que o seu problema fora com a gasolina de Andorra e que certamente tinha alguma gota de água misturada, porque se fosse impureza a moto teria continuado a soluçar e a tossir! Se não o fez mais, deveria ter encontrado água da gasolina e essa passa no filtro sem entupir, só que, como a moto não se move a água, engasgou, tossiu e parou, até passar para baixo, depois nada mais se sentiu!

De repente fiquei supercontente e cheia de vontade de continuar! É que me preparava para fazer grandes caminhos que sem confiança na moto seriam difíceis de fazer!

Era o dia de começar a subida até ao Lac Leman, na Suiça!

Mas antes eu tinha de ver umas coisas, porque era cedo e por isso uma boa hora para ir passear para o Mónaco e porque assim sentiria como estava a minha motita da tosse! E segui contornando a costa até lá!

É um dos percursos bonitos de se fazer mas que pode ser extremamente aborrecido em hora de toda a gente sair para passear os automóveis, por isso queria faze-lo cedinho! Eu nem gosto de carros, porque teria de “levar com eles”?

Tomei um grande pequeno-almoço num ambiente muito giro

A minha Magnífica tinha feito amizade com a GS de um alemão que andava a passear por França com a filha adolescente.

E segui pela estrada mais panorâmica da zona, porque fica ali em cima e nos permite ver tudo, como se estivéssemos no camarote de um anfiteatro!

Eu sei que parei de 100 em 100 metros para tirar fotos semelhantes, mas quem é que consegue evitar de o fazer, com uma paisagem destas?

Èze fica ali em cima, mesmo na borda da estrada… mas não me apeteceu nada pousar a moto e caminhar por ali acima! Quando voltar a passar por ali, já prometi a mim mesma que vou visitar!

E fui-me passear para os jardins do Casino de Monte-Carlo!

Fui caminhando por ali abaixo e reparei que os policias que estavam no local foram muito simpáticos para mim!

Aquilo é bonito sem a multidão por todo o lado!

E lá estava ele, com a escultura em espelho côncavo em frente! Bem, de um lado é côncavo do outro é convexo!

Tinha feito a estrada desde a entrada no Mónaco atrás deste carro! Tem o ferrão do escorpião em cima e tudo! Até fiquei a olhar se não seria um dos elementos da banda, mas não, era um tipo qualquer, provavelmente apenas um fan!

Ainda pensei em ir ao forte, mas tinha de subir até lá acima pois a moto não pode passar! Perguntou-me o polícia que está na rotunda antes, onde eu ia!

“Eu? Eu vou para a Suíça!” respondi.

“Vai para a Suíça por aqui? Mas isto nem tem saída!”

Fez-me lembrar quando perguntaram em Vilar-Formoso ao meu amigo João Luís onde ele ia e ele respondeu que ia para Africa e também lhe perguntaram “por aqui?!” eheheh

Mas houve mais momentos em que me perguntaram onde eu ía e nem sabia o que responder, então perguntava “onde vou neste momento, ou nesta viagem?”

E lá voltei a Nice…

Onde começa a estrada que eu iria fazer

Uma das estradas mais encantadoras e famosas dos Alpes

(continua)

6 – Passeando até à Suiça – de Montpellier até Nice… cheia de receios!

*
*

3 de Agosto de 2012

O hotelzinho onde fiquei era muito simpático e o patrão estava mesmo preocupado se eu tinha quem me ajudasse com a moto, senão ele mesmo encontraria um stand da Honda para me levar lá!

Mas não foi preciso, o meu amigo Charles Formosa lá estava à hora marcada, mais a sua Pan, para me acompanhar ao senhor doutor!

Ao princípio a minha motita engasgou um pouco, mas depois parecia que nada se tinha passado no dia anterior! E eu acompanhei o Charles sem qualquer dificuldade!

De repente parecia que iria ver as entranhas à minha moto todos os dias!

E tudo para ouvir a mesma coisa! A moto não tinha nada! Tudo funcionava como um relógio, nem dava para perceber que era uma moto com tantos quilómetros!

Mas a minha preocupação mantinha-se! Que adiantava que ela não tivesse nada na frente de toda a gente se, mal se visse sozinha comigo, começasse a falhar de novo?

Não sabia o que fazer, se seguir para a frente, e continuar a viagem, se voltar para trás e acabar com as inseguranças! E diz-me o “manda-chuva” do stand: “Vá para a frente sem medo! Afinal vai andar em países civilizados, a qualquer momento se a moto falhar, chama a assistência em viagem e vai para casa, não sem antes ter feito pelo menos parte da viagem!”

O Charles era da mesma opinião, aliás ele reforçava a sua ideia de que a Magnífica chegaria ao fim da viagem sim senhor! E eu lá fui…

Já não é a primeira vez que eu tenho planos para explorar a zona da Provença e algo me impede de faze-lo! Começo a pensar que tenho de lá ir direta com a única finalidade de a catar de ponta a ponta ou acho que nunca a conseguirei ver como quero!

Ainda dei umas voltas pela zona industrial de Montpellier e pela entrada da cidade a ver se algo acontecia enquanto estava perto da oficina…

Nada aconteceu, era como se ontem nada tivesse acontecido!

Então apanhei a via-rápida e fui por ali fora cheia de cautelas, como evitar permanecer na faixa de ultrapassagem, pois a moto podia engasgar de vez e deixar-me no meio da rua!

Mas nada disso aconteceu…

Eu não gosto de viajar por autoestradas nem vias-rápidas, por isso acabei por sair em Aix-en-Provence…

A moto estava normal mas eu não me aventurei muito pelo centro! Apenas passei e segui o meu caminho junto ao Mont de Saint Victoire, o monte que Sezanne tanto pintou quando ali viveu!

Não tinha vontade de parar, nem de ver nada, apenas chegar a Nice e ter a certeza que a moto estava bem e que não me abandonaria! A Provença? Não faltarão oportunidades para eu a catar de ponta a ponta!

Cheguei a Nice e enfiei-me na pousada de juventude, que por acaso era bem divertida e com uma paisagem bem bonita!

Fiquei ali a conversar com uns e com outros, pois toda a gente ficava, primeiro surpreendida por eu estar ali de moto, depois por a moto estar partida! Ofereceram-me cerveja, e tive um serão de horas de paleio!

E foi o fim do 5º dia de viagem, com direito a comida japonesa e muita conversa!