6. Passeando pelos Balcãs… – Albi, Saint Montan, Gordes, Sisteron

2 de agosto de 2013

A Provença é aquela zona perfumada que eu queria visitar!

É só escrevinhar o nome no Google e a cor da lavanda aparece por entre imensas imagens encantadoras de aldeias medievais lindíssimas, construções de pedra e imensas planícies de perder de vista, entre montes, e rios, e penhascos…

Desde a minha primeira viagem que por ali passo cheia de encanto e vontade de explorar mais um pouco. O perfume paira no ar vindo de todo o lado sem se saber de onde, porque o traz a brisa e o levamos na memória!

No ano passado os pequenos problemas com a gasolina fizeram a minha moto ressentir-se e preocuparam-me ao ponto de não me deixarem passear descontraidamente por ali, e trazia comigo a vontade de voltar. Este ano voltei e, de novo, me maravilhei!

Eu sabia que implicaria fazer uma série de quilómetros para passar onde queria, sabia que o calor seria um empecilho, mas não resisti!

Dei a minha volta por Albi, em tom de despedida e panorâmica geral.

O rio Tarn dá-lhe um encanto antigo e romântico! Aquele rio é, aliás, cheio de encantos no seu percurso!

Estava fresquinho por ali, àquela hora da manhã, eu parei a moto em cima do passeio junto à ponte e apeteceu ficar mais um pouco. Três velhotes pararam junto à moto e esperaram que eu me aproximasse.

“É você que conduz esta moto?” – perguntou um deles.

“Sim.”- Respondi

“Vês? Eu bem te disse que ela vinha sozinha, não havia nenhum homem com ela!” – dizia um deles para os outros.

“Bem! Mas esta moto é muito grande e pesada! Como consegue pegar nela?!” – perguntou outro visivelmente impressionado.

“Não há problema, senhor, é ela que pega em mim e não eu que pego nela! Por isso ela pode bem comigo!” – respondi rindo-me.

“Pois, mas você é tão magrinha e ela tão gorda!” – espantava-se um – “não leve a mal eu dizer que a menina é magrinha!”

“Uma senhora nunca se ofende se a chamam de magrinha!” – eles riram-se. Perguntaram de onde eu vinha e arregalaram os olhos quando perceberam que (para eles) eu vinha de muito longe.

“Pois, é magrinha mas aaaalta! Nem parece portuguesa!” – e olhavam para mim com uma admiração enternecedora.

Peguei na moto e acenei-lhes adeus, os 3 levantaram logo as mãos e acenaram também. Acho que fui o assunto de conversa para todo o dia!

Ainda passei no centro da cidade, estava deserta, o calor começava a chegar, e eu parti.

As distâncias nem parecem muito longas quando as paisagens são encantadoras!

E a Provença era logo ali, sentia-se pelo perfume que começava a pairar no ar. Os campos de lavanda apareceram nas bermas das ruelas mais à frente, primeiro ainda pálidos, ao chegar a Larnes.

O calor já era muito, sentia-me suada e com vontade de me meter na água e, de repente, era a frescura no meio do calorão e o perfume suave no ar fazia com que me sentisse de alguma forma, fresca!

Parei um pouco junto à Eglise de St Pierre, uma construção românica deliciosa do séc. XII, no meio do perfume e da cor púrpura!

Mas eu ia a caminho de Saint Montant, “Le plus beau site médiéval de l’Ardèche”! E era mesmo!

Uma aldeia na encosta, feita de cantos e recantos empedrados, com arcos, escadas e passagens encantadores!

Não havia por lá ninguém! Que maravilha, quase entrava na casa das pessoas nas infinitas voltas que dei lá por dentro!

Cada recanto e passagem era uma promessa de frescura e sombra que eu não conseguia deixar de apreciar!

O tempo que eu andei por ali, sem ninguém para me perturbar! Pude sentar e desenhar, fotografar e apenas estar!

Sem turistas por perto nem tive de esperar para poder “apanhar” espaços sem ninguém! Eu era a única pessoa a visitar aquilo tudo!

Escusado será dizer que tirei um milhão de fotos…

Uma pérola de silêncio e paz no meu caminho!

Os caminhos que segui eram igualmente feitos de paz e encanto…

Até chegar a Gordes… onde estava toda a multidão que não estava em St Montant!

Nem me apeteceu parar, pousar a moto e embrenhar-me na confusão! Preferi ver de longe, onde o barulho e a trapalhada do turismo nem se fazia ouvir!

Porque o meu destino era um pouco mais à frente! Podia ver lá em baixo, uns quilómetros à frente, o que eu procurava!

A Abadia de Senanque, do séc. XII, rodeada de campos de lavanda é quase um ex-libris da Provença, e é linda!

Então pude passear por entre a lavanda e pôr a mão e tudo! Por aquela altura eu já achava que tinha mesmo tomado banho e todo o meu corpo emanava aquele leve perfume delicioso!

Sentei-me e, por entre longos exercícios respiratórios, que não eram mais do que absorver todo aquele aroma, voltei a desenhar e nem quis saber se teria tempo de visitar a abadia!
“Quero lá saber, quero é curtir este êxtase!”

Quando eu pensava que nada podia haver de melhor para viver por ali, entrei na igreja e fui recebida pelos cânticos gregorianos de um grupo de monges! Que coisa extraordinária!

Quando lá voltar tenho de ir visitar os claustros que são lindos, naquele momento nada disso me apetecia!

E fui passeando pelos campos de alfazema, cada vez mais frequentes e cada vez mais perfumados e coloridos!!

Não sei quantas vezes parei para ver de perto e para pôr as mãos! Dois carros me seguiam e nunca me ultrapassaram, paravam sempre que eu parava e as pessoas saiam e faziam o mesmo que eu! Parecíamos todos tolinhos, parávamos, e íamos passear pelos carreiros entre a lavanda, voltávamos a seguir e a parar mais à frente!

Há mesmo miradouros para se poder apreciar os imensos tapetes purpura na planície lá em baixo!

Acho que ali ninguém planta batatas ou cebolas, ou flores de nenhum tipo para além da lavanda!

E quando a lavanda pareceria nunca mais ter fim, entrara já nos Alpes Provençais e Sisteron apareceu ao fundo!

E anoiteceu num espetáculo digno de toda a beleza que me acompanhara até ali!

A “minha casa” naquele dia era ali perto, numa montanha, em Authon.

Comecei a subir e os quilómetros a escoarem-se até que, 25km depois o GPS me diz “chegada ao destino à direita!”

Era noite fechada já e, à direita havia apenas o precipício, porque à esquerda nada havia!

“Raios, queres que eu durma em cima da pedra a 2.000 metros de altitude?”

Nada havia em redor e eu não sabia o que fazer, andei um pouco para a frente e nada havia também, via as luzes de uma casinha ao longe, mas o caminho era isso mesmo, um caminho manhoso! Fui até lá e nada mais faria, ou era ali ou iria para Sisteron arranjar onde dormir!

No escuro puder perceber um senhor que passeava o cão! Aproximei-me e perguntei-lhe se sabia onde era o sítio onde eu deveria dormir. O homem ficou aparvalhado a olhar para mim quando falei!

“Você é uma senhora!” – exclamou!

“Valha-me Deus, queres ver que se vai pôr com conversas sobre mim e sobre a moto, e de onde eu venho ou para onde vou, e eu estou aqui no meio do monte na conversa em vez de ir procurar a minha cama?!”

Mas não, passada a surpresa inicial, ele sabia onde era sim, só tinha de andar mais uns 4 ou 5 quilómetros e estaria lá!

Explicou-me então que ficou em pânico quando viu uma moto tão grande vir na direção dele, pelo carreiro onde nem os carros cabiam, e o quanto lhe soube bem ouvir uma voz de menina e não de um homem enorme e barbudo!

Ficou a ver-me dar meia volta, com as rodas a caírem para os campos mais baixos nas bermas do caminho e disse-me adeus quando parti, cheia de “mercis” e “bonnes nuits”.

O sítio onde dormi era um refugio para esquiadores e caminhantes e receberam-me cozinhando para mim, com direito a vinho e café e aquecimento no quarto pois por ali o frio chega cedo!

Que bem que eu dormi!

Fim do 4º dia de viagem!

5. Passeando pelos Balcãs… – Albi, Cordes, Rocamadour

1 de agosto de 2013

Aquela zona de Albi é para se catar com calma, mas desta vez apenas fiquei o tempo de dar uma volta mais!

Quando se trata de zonas onde passo com muita frequência tento não as esgotar para continuar a ter assunto a cada vez que lá volte a passar!

Por isso são zonas que nunca cato a fundo, apenas vejo coisas! Então andei por ali a ver coisas e a curtir estrada, como se não tivesse estrada com fartura para fazer nos dias seguintes!

O sul de França é encantador (como todo o país, diga-se) há ruínhas deliciosas com castelinhos em qualquer colina ou planície!

Logo ali a seguir descobri Cordes-sur-Ciel, que tinha visto numa placa no dia anterior e me pareceu digna de visita. E era!

Uma terrinha medieval encantadora e fortificada, com ruínhas ingremes que sobem por ali acima ladeadas de casinhas deliciosas!

É uma das terras medievais agrupadas nos Grands Sites de Midi-Pirénées que reúne uma série de aldeias lindas. Eu passei por algumas mas não iria visita-las todas! Vou lá voltar e pronto!

Albert Camus, depois de visitar a cidade nos anos 1950, dizia «À Cordes, tout est beau, même le regret». (Em Cordes tudo é belo, até o lamento)

Cordes foi um reduto cátaro e pagou caro por isso à perseguição da inquisição! Ando há tanto tempo a pensar percorrer todas as terras e castelos cátaros e estou sempre a cruzar-me com eles!

O aspeto fortificado não se perdeu e as ruelas e casas mantêm hoje aquele ar medieval de castelo protetor! Tudo é lindo por ali!

Curioso que, ao contrário de outros sítios, aquilo estava meio vazio! Não havia enchentes de turistas por todo o lado a fazer barulho e a perturbar todo e qualquer enquadramento que se quisesse fazer! A beleza estava toda por minha conta! Delicioso!

Ainda me voltei para trás ao afastar-me! Que paisagem mais bonita! Fiquei rendida, está na hora de pensar em voltar e fazer a rota Cátara de uma vez por todas!

Mais à frente fica Cabrerets, que nem me atrevi a tentar ver de perto, ou nunca mais sairia dali! É outra cidade medieval dos Grands Sites de Midi-Pirénées que ficou na minha agenda…

E depois Labastide-Murat e por aí fora! Tudo é a visitar por ali!

Mas era a Rocamadour que eu queria ir! Estive lá no ano passado mas não deu para entrar, apenas vi a cidade por fora e apetecia-me vê-la de perto!

Fica encrostada na encosta de um longo penhasco sobre o vale do Alzou, num enquadramento espetacular!

Dei por ali meia dúzia de voltas, não me apetecia nada deixar a moto a quilómetros e aproximar-me no comboio turístico, como me sugeriam por lá! Eu vi motards fazerem isso mas tentei de novo a aproximação ao centro histórico e, surpresa, fui desembocar mesmo no meio da vila!

Bem, depois de estar ali não iria voltar para o fundo do penhasco para ficar a olhar para ele de longe! Então arranjei um cantinho entre carros de residentes e meti lá a minha motita muito escondidinha!

Ora, sem me ter cansado nada a caminhar até ali, já pude escalar o penhasco calmamente!

Foi aqui que eu comecei a levar o lenço motard vermelho comigo para limpar a cara, é que o calor fazia transpirar para caramba! E foi a partir dali que as pessoas começaram a identificar-me facilmente como motard, pelo lenço vermelho diziam, mesmo quando estava longe da moto e nada levava nas mãos, tipo capacete, que me identificasse como tal!

E aquilo sobe para caramba! A multidão de turistas que não estava em Cordes… estava toda ali, acho!

Lá em cima fica a basílica de Saint-Saveur

Onde não se podem tirar fotografias! Eles contam que as máquinas fazem barulho ao fotografar, por isso não tomam conta… das máquinas silenciosas como a minha! Por isso lhe tirei o pio e por isso fotografei em paz!

Rocamadour e os seus santuários cheios de lendas e histórias desenvolveu-se no caminho de Santiago por isso está nos locais de grande peregrinação, antes dos locais de grande turismo, com putos a correr e a gritar e adultos a tirar fotos patetas, com as suas caras em primeiro plano e as igrejas e penhascos em segundo ou ultimo….

O local é extraordinário, com as construções encravadas nas rochas e fazendo delas as suas paredes!

Cá em baixo, onde a moto estava estacionada, ficam as lojas de tudo e a multidão que se acotovela!

Eu gosto que os locais tenham gente, para só já basto eu em cima da moto, mas detesto tudo aquilo repleto de gente que anda por ali sem apreciar realmente o que há, e que grita, e que corre e dá gargalhadas histéricas, e devia mas era estar na praia e pronto!

Ainda passei em Le Puy-en-Velay mas a confusão era bem pior, porque ali é mesmo uma cidade cheia de gente e de transito e que esta em obras…

Os seus montes famosos sobressaem no meio do movimento da cidade, onde nem um espaço arranjava para estacionar a moto!

Raios! Um calor infernal, um trânsito terrível, uma multidão desencorajadora… amuei e fui embora!

Puxa, de longe aquilo tinha muito mais piada, com uma brisa fresca a arrefecer-me as ideias e a convidar-me para conduzir até casa, que naquele dia era ainda em Albi!

Fim do 3º dia de viagem!

4 . Passeando pelos Balcãs… – de Saragoça até Albi

31 de julho de 2013

A cada vez que atravesso os Pirenéus faço-o por caminhos e direções diferentes, porque aquilo é imenso, é lindo e tem muito o que ver, não há necessidade de fazer eternamente os mesmos caminhos com tantas hipóteses de combinação diferentes!

Em Saragoça havia algo que eu queria visitar há tempos, o Palácio de la Aljaferia!

Trata-se de uma construção única do séc. XI que vem desde o tempo dos califas!

O edifício é extraordinário, com uma história infinita e ali funcionam hoje também as cortes de Aragão. É imponente olhar para ele, parece diretamente saído do passado!

As histórias que se sabe ali, com um guia simpático e bem-humorado que nos desafiava a repetir o nome do califa a cada momento! Claro que ninguém conseguia por isso marquei como trabalho de casa procura-lo e regista-lo na crónica que fizesse.

E então o homem chamava-se: Abu Jafar Ahmad ibn Sulayman al-Muqtadir Billah…

Se preferirem em árabe é: أبو جعفر أحمد “المقتدر بالله” بن سليمان

O palácio é lindo, apesar de se terem perdido os seus adornos originais, já que foi sendo alterado e acrescentado por cada rei proprietário e por fim pelos usos menos apropriados que lhe foram sendo reservados, como quartel de guerra!

Felizmente acabaram por restaura-lo e poupa-lo a mais danos e perdas…

Aquele que foi chamado pelo seu criador o Palácio da Alegria!

O palácio era fresco, mas o calor apertava já cá fora! Segui para norte, o destino era França, porque a Espanha é para se ver na Páscoa nas minhas voltinhas peninsuleiras!

Passei por Barbastro, uma terra que ficava no meu caminho e prometia uma boa esplanada para eu comer qualquer coisa!

Eu já tinha passado ali noutra viagem qualquer, por isso sabia que comeria bem e fresca!

A cidadezinha é simpática, fica na província de Huesca, uma zona que adoro! Cada vez que lá passo apetece catar mais um pouco! Mas isso seria se não tivesse uma imensa viagem pela frente para fazer, por isso comi, dei uma volta e segui!

O que eu gosto de conduzir pela montanha!
Não importa se a estrada está em bom estado, ou se as curvas são muito apertadas! O que eu gosto numa moto é de a conduzir e na montanha é aquela “aventura” que me apaixona e a minha moto adora também, parece que nem tem peso e que o seu corpo se molda à estrada!

Uma constante nesta viagem foi o parar para comprar água, beber meia garrafa e depois voltar a parar antes que ela aquecesse para beber o resto e assim se ia uma garrafa de 1.5l!
Ao menos a parar que fosse em sítios bonitos!

Porque assim poderia aproveitar para esticar as pernas e ver algo de interessante no entretanto!

E cheguei a França “pronto minha querida, já vais conhecer um pouco do 3º país da tua vida” dizia eu à minha Ninfa!

E o passeio continuava por estradas serpenteantes, daquelas que nunca se sabe quando acabam de subir e começam a descer porque olha-se e estão por todo o lado!

Ora se sobe, ora se desce, e volta-se quase ao mesmo sítio no fim, só que noutro nível! A D O R O!

E com esta brincadeira cheguei a Albi ao entardecer! O que eu me tinha divertido apesar do calor!

Albi era uma cidade que eu andava para visitar há uma série de viagens atrás, mas há tempo, e acabou por ser desta! A sua catedral de tijolo é impressionante! Acabei por não a visitar por dentro, nesta viagem não vi muitas igrejas, eram outras coisas que eu procurava por isso vi mais mesquitas e igrejas ortodoxas! Manias que eu crio assim de repente!

Mas certamente que um dia lá passarei e lhe dedicarei mais atenção, afinal a Cathédrale Sainte-Cécile d’Albi é um edifício gótico extraordinário, do séc. XII, que merece ser visitado!

Ali, enquanto me passeava pela zona mais antiga da cidade, um tipo passou por mim e cumprimentou-me por 4 vezes até eu ter um ataque de mau feitio e o mandar à me***!

Quando me voltei de repente para ele e lhe perguntei o que queria ele até deu um passo atrás! Afinal eu consigo intimidar um homem, heim? Porque terei de ter medo deles, pensei eu, no caso de num país qualquer ter de me descartar de um emplastro que me tente chatear! Fui-me embora a rir sozinha e alto o suficiente para ele ouvir! Desapareceu!

Aquelas ruelas são encantadoras, passeia-se por ali como numa historinha dos Irmãos Grimm !

Comi muito bem naquela noite! O senhor do hostel aconselhou-me um restaurante típico que foi uma deliciosa surpresa, Le Loup Sicret e era mesmo secreto! Se o homem não me tivesse falado dele nunca o encontraria pois fica bem escondido!

Entra-se por uma espécie de centro comercial e lá dentro, inesperadamente, tem um jardim lindíssimo onde eu jantei!

Uma versão deliciosa e sofisticada de hambúrguer de pato que mais parecia um prato de grande culinária, acompanhado de um delicioso vinho, ou não estivéssemos na terra do precioso néctar!

Naquela noite eu andava mascarada de turista “normal” de calções e tal, mas nem assim passei despercebida pois levava o chapéu! Manias!

Cá fora na praça o mundo parecia outro, feito de gente em esplanadas longe do recolhimento romântico do restaurante!

Foi um belíssimo serão, que serviu para retemperar energias e relaxar, como eu estava a precisar.

Fim do 2º dia de viagem!

77 – Passeando até à Suíça 2012 – A França – Lourdes, Espanha, Avis… FIM!

6 de Setembro de 2012

Era o dia de ir para casa… para minha casa mesmo! Não uma casa numa cidade qualquer, mas sim a minha…

Eu não queria!

Eu queria continuar, dar mais umas voltas, visitar mais uma infinidade de cidades aldeias por todo o lado, menos ir já para casa! Mas não havia alternativa, amanhã era dia de me apresentar na escola para a tal reunião…

Depois havia o meu moçoilo que me deixa sempre saudades e me ajuda a querer voltar sem fazer birras dentro de mim. Decidi que não prolongaria mais a agonia, iria passar em Lourdes, dar uma volta por lá, já que estava apenas a uns escassos 40km, e depois seguiria para casa sem parar em lado nenhum em especial! Se é para acabar que acabe!

Este foi o dia em que a minha maquina fotográfica fez algumas habilidades curiosas de que só me dei conta depois de umas quantas fotos! Uma delas que já vinha fazendo e que eu desconhecia em outras maquinas que tive, eram uma espécie de bolas vermelhas, quando o sol se refletia na lente! Um efeito curioso a que não acho muita graça!

Eu não uso despertador em férias. É coisa que só uso para ir trabalhar, pois há uma obrigação a cumprir! Ora viajar é tudo menos uma obrigação, por isso acordo quando acordar e saio quando estiver pronta! A verdade é que às 7.20h estava em Lourdes! (só sei a hora porque a foto regista a hora a que foi tirada! 😀 )

Não faltava gente por lá e foi da maneira que consegui ver os espaços religiosos por dentro, pois normalmente está tudo fechado, ou reservado, ou em oração!

Na realidade ali se juntam, num único conjunto, três construções próximas da Gruta de Lourdes: a Basílica da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário e a da Cripta.

É muito agradável visitar um recinto destes cedinho da manhã, como visitar Fátima! Sem a enchente, sem confusões nem empurrões, nem filas para sequer tirar um copo de água da fonte!

Eu não sou uma pessoa particularmente religiosa mas a confusão num espaço religioso, numa catedral, num recinto, sempre me deixa estupefacta! Vamos visitar um lugar sagrado em magotes barulhentos e rudes, com miúdos irrequietos? Por isso aprecio o vazio e o silêncio. Deixem-me viver o espaço em paz!

A Notre-Dame-de-Lourdes apareceu ali 18 vezes a Bernadette Soubirous em 1858, na gruta de Massabielle, na margem do rio Gave de Pau.

A Cripta situa-se no Rochedo de Massabielle, por cima da gruta, entre a Basílica Superior e a Basílica do Rosário. A Cripta constitui o primeiro santuário e foi inaugurada em 1866 com capacidade de 120 lugares, embora a gente olhe e pareça mais pequena!

Os corredores estão forrados com lapides de agradecimentos de fieis de todo o mundo. Chega a ser quase deprimente!

Capela de Santa Bernadette há um relicário que não entendi que relíquias contem já que o corpo da santa é um dos corpos incorruptos mais famosos, por se manter intacto e em exposição noutro local, em Nevers, onde ela faleceu!

E então, quando entrei na Basilique de l’Immaculée Conception a minha máquina começou a alucinar e a fazer habilidades que eu ainda lhe desconhecia!

Como eu só olho para o enquadramento quando o faço e depois não confirmo como ficou, demorei um bom bocado a perceber que ela estava alucinada!

Devo confessar que não aprecio estes efeitos sobre as fotos, mas tive de os gramar pois foi o que ela trouxe para mim do trabalho que eu fiz! Por outro lado algumas fotos nem ficaram mal de todo, como esta:

Segui caminho por caminhos já percorridos na ida, no início da viagem. Só os voltei a percorrer porque vira um santuário que me despertara a atenção e já que estava por ali fui investigar. Eram os santuários de Bétharram, onde fica o de Saint Michel Garicïts, aqui registado em mais uma foto alucinada!

Achei piada que, enquanto passei ali, segui viagem e voltei, tinham feito obras na rua em frente! Inacreditável o que se passa num mês!

E foi então que eu olhei bem para a bosta de fotos que a máquina estava a fazer e parei para observar as suas funções. Ui, são tantas que demorei para caramba a descobrir onde tinha carregado para ela alucinar! Voltou ao normal! Puxa, que descanso para os olhinhos!

Um senhor muito simpático achou curiosa a minha curiosidade e fez-me visita guiada ao espaço religioso e contou-me a história do santo!

Este santo, Saint Michel Garicïts, um padre Basco, despertou uma grande simpatia em mim!

«“O que fez o seu santo? ” – perguntam às vezes os visitantes.  É difícil de responder. Ele não fez nada aparentemente brilhante, pelo menos, essas ações brilhantes na fronteira entre o escândalo e o jornalisticamente importante. Mas ele fez muito, para que possamos responder em poucas palavras a uma pergunta dessas.»
Viveu no fim do século XVIII e princípio do séc. XIX e foi contemporâneo das aparições de Lourdes.

Ele dizia que « L’éducation intellectuelle, morale et religieuse, est l’œuvre humaine la plus haute qui se puisse faire.» (A educação intelectual, moral e religiosa, é a mais elevada obra humana que se pode realizar.) e criou escolas e colégios por toda a França, depois pela Europa e do outro lado do Atlântico, na Argentina e no Uruguai. Hoje a sua obra existe como uma fundação.

E a máquina voltou a alucinar!

Ainda por cima sem que eu desse por ela!

Não cheguei a entender como consegui eu, apenas ao pegar-lhe, faze-la entrar numa função que para desativar era preciso entrar no menu e procurar clicando aqui e ali!

Mas foi o que tive de voltar a fazer para ela desalucinar!

Atravessei os Pirenéus passando por alguns pequenos cols, como este Col de Houratate, que dá acesso ao Col de Labays que dá acesso ao de Pierre St Martin. Estradinhas adoráveis com paisagens inesquecíveis…

Cada paisagem era uma despedida, cada foto uma memória para ajudar a passar o inverno que se aproximava…

Ali começava a descer para Espanha onde não deveria parar para nada… não me apetecia de todo voltar a parar…

Navarra à vista, até já Portugal!

Não parei mesmo, apenas o fiz para pôr gasolina. Se tinha de acabar a viagem que acabasse, de nada servia prolongar a “agonia”. Cheguei a casa cedo, antes do meu moçoilo voltar do trabalho.

Desfiz a bagagem, que nunca é muita, estendi-me no sofá cheia de horizonte na memória.

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7 de Setembro de 2012
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No dia seguinte tive a minha reunião! Voltei a casa, pus meia dúzia de coisas na mala e parti para Avis.

Estava a decorrer o Travel Event promovido pela Touratech Portugal, um já tradicional encontro de amigos onde gosto de estar.

A minha Magnífica só ali denunciou o seu estado escacado, espantando os olhos a quem cruzou com ela, parada à “porta” do evento. Muita gente pensou que eu tinha caído em viagem, outros pensaram que eu tinha caído naquele dia…

Encontrei os amigos de sempre, mais os que vejo muito pouco, ainda os que só vejo neste evento e ainda os que conheci pela primeira vez! Só por isso já valeu a pena juntar mais uns 700 quilómetros à já longa quilometragem que acumulara na viagem!

A noite seguiu-se ao dia, a patuscada seguiu-se ao jantar, a cavaqueira e a boa disposição seguiu-se às palestras e ninguém diria que eu tinha tanta estrada em cima de mim!

Momentos alegres com gente simpática de quem eu já tinha saudades!

O grande viajante João Luís que ainda me há-de ensinar a abrir uma garrafa de cerveja com um chinelo de borracha!

E não é que ele as abre umas atras das outras sem problema! Faz jeito tal técnica em viagem, embora o saca-rolhas ande sempre no tablier da moto!

Ainda deu uma vaidosa voltinha com a minha camisola Motoólica viajante!

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8 de Setembro de 2012
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No dia seguinte tenho de confessar que dormi até às tantas!

É curioso como o corpo sabe que já não estou em viagem e aproveita para dormir para a mundial! Em viagem nem despertador é preciso, às 7.00 da manhã acordo e pronto não há mais nada para dormir!

Aquele era o dia mais interessante para mim, pois era o dia das palestras que me despertariam mais, entre elas a do João Luís. Por isso passei o dia a “ dar água sem caneco”, a conviver e a encher-me de comida “portuga”, junto do caracol dos Correias.

Eu nunca experimento motas no Travel Event, por muito que me apeteça e elas me “pisquem o olho”. Chego sempre cansada e acho que os meus reflexos e força podem não estar no seu melhor numa eventualidade, e deixar cair uma moto que não é minha. Na minha é como jogar em casa, venho viciada nela, sabemo-nos muito bem adaptar uma à outra! Mas nas novas e desconhecidas, não arrisco. Tenho um ano inteiro para fazer test-drives.

Por isso passo sempre o tempo por ali, a comer, a beber e a apreciar a paisagem e a presença dos amigos.

E chegou a noite, e chegou a palestra do João Luís!

A sua conversa não interessa e as suas histórias não prendem a atenção de ninguém, como se pode ver pelas fotos!

Ele fica ali a falar…

E as pessoas aqui, simplesmente hipnotizadas a ouvir! 😀

E claro, a claque M&D (Motos e Destinos) muito atenta também!

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9 de Setembro de 2012
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Chegou a última manhã longe de casa.

O amigo Rui Baltazar, organizador do Travel, fez mais uma vez o favor de me arranjar uma cama para eu descansar os ossos, no bungalow do costume, onde eu fiquei com a Magnífica à porta.

A minha menina, a minha grande amiga que estava a clamar por paz, por repouso e cuidados de saúde e beleza, rápidos e profundos…

Despedi-me de tudo e parti de novo, pela última vez, depois de 40 dias longe de casa!

Um amigo me acompanhou e é sempre curioso viajar com alguém depois de tanto tempo por conta própria!

O Filipe Oliveira e a sua GSA foram uma companhia simpática, até ao “porquinho” da Mealhada que despertou de repente uma saudade em mim!

E a minha Magnifica aparece finalmente de frente numa foto, quando o mundo já sabia que ela estava partida. Já nem custava tanto ver as suas feridas, porque em 40 dias eu tinha pensado o suficiente na decisão a tomar.

Não iria gastar nem mais um euro nela!

Teria revisão, teria pneus, teria arranjo de carenagens e teria no fim uma moto com os mesmos 261.000 km…

Por isso eu iria tratar de comprar uma moto nova, mesmo antes de precisar de fazer uma revisão, e dar a Magnifica à troca. Estava decidido.

Por isso 5 dias depois de chegar de viagem eu tinha a sua sucessora nas mãos, com zero quilómetros e muitos quilómetros de vontade! A sua matrícula xx-NF-xx garantiu-lhe o nome, dado que começaram a dizer que eu tinha uma Ninfa! Longa vida para ela…

E cheguei a casa depois de:

40 dias
18.660 km
14.500 fotos
933 litros de gasolina
1.380.84 € em gasolina
620 € em dormidas

Despesa total: 2.550.19 €

O que me faltou?
Um pouco mais de confiança na motita que apesar de tudo me levou e me trouxe em paz!

O que sobrou?
Beleza, espanto, descoberta…

O que valeu a pena?
Não ter desistido de partir, apesar de todos os azares acumulados!

O que teria dispensado?
Todos os pequenos percalços que me foram acompanhando e que nem relatei todos, pois já parecia o rosário das aflições!

O que me apetece dizer ainda?
Quero voltar a partir!

Beijucas e até para o ano!

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FIM
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76 – Passeando até à Suíça 2012 – A França – Bergerac, Pau…

5 de Setembro de 2012- continuação

Bergerac é uma cidade de origem medieval linda, onde o Cyrano de Bergerac nunca viveu!

Na realidade o Cyrano que inspirou a peça de teatro, que já deu origem a filmes e operetas e tudo, existiu mesmo, chamava-se Hector Savinien de Cyrano de Bergerac, foi um escritor-soldado-doelista do séc XVII, que acrescentou “de Bergerac” ao seu nome por causa de terras que teriam sido da sua família na antiga localidade onde nasceu Bergerac!

Dois séculos depois a sua história, por ser “meio irrequieto”, inspirou o criador da peça de teatro, Edmond Rostand, que o recriou com um grande nariz!

Ora a cidade, embora nunca lhe tenha servido de habitação, honra-o com diversas homenagens e referencias!

A Eglise Notre Dame de Bergerac em estilo neogótico do séc. XIX, recebe-nos logo ali, junto ao centro histórico da cidade!

Claro que fui dar uma espreitadela antes de ir ver as ruelas!

Quem gosta do gótico genuíno, nunca fica indiferente ao neogótico! Afinal a inspiração no estilo medieval é visível! A grande diferença está nos muitos séculos que separam os dois estilos…

E logo ali abaixo fica a estátua mais recente de Cyrano! Policromada e sobre um plinto inoxidável é impossível passar despercebido a quem passa!

Está na Pelissiere Place e é muito interessante!

Por trás da escultura fica Maison Cyrano de Bergerac, onde se vendem produtos de qualidade, típicos da zona.

A cidade tem uma outra estátua de Cyrano, mais antiga, em pedra, que está numa praça mais abaixo! Fui descendo pela praça encantadora e cheia de vida até a encontrar.

A “Font-Ronde” denuncia o quanto é antiga e as esplanadas em redor permitem bem disfrutar do ambiente formado por edifícios da mesma época bem conservados ou restaurados!

Um tipo de lá de cima de uma janela brincou comigo, por eu andar ali de um lado para o outro a tirar fotos “Tire-me uma foto a mim!”- disse ele “Eu? Nem pensar!” – respondi eu – “Eu só tiro fotos a coisas bonitas e você é feio!” as pessoas desataram a rir-se! Mas ainda o apanhei meio desconsertado lá em cima na janela a olhar meio parvo para mim! eheheh

A zona antiga é muito bonita e pitoresca, com casinhas medievais de travejamento exterior, ou de pedra com as beiras e venezianas das janelas em madeira colorida, como postais ilustrados!

E lá estava a segunda estátua de Cyrano, na place de la Myrpe!

Uma cidade encantadora que vou voltar a visitar quando for explorar melhor aquela zona… sim, já está em agenda para um dia mais tarde voltar!

Depois dispus-me a deixar de me distrair e parar para ver tudo o que surgisse no meu caminho e continuar a descer o mapa pela província da Gasconha…

Mas eis que em Marmande cruzei com o Canal du Midi!

Aquele canal anda-me a chamar há vários anos e eu ando a querer lá ir! Ui, a informação que eu já recolhi sobre ele, até já comuniquei com aficionados e historiadores de lá… agora só me falta ir lá faze-lo de uma vez, de ponta a ponta…

E fui para Pau, que desta vez não havia muito tempo a perder… estava a caminhar para casa rapidamente!

Fui jantar numa esplanada na zona antiga da cidade.

A minha motita fez uma série de amigas num instante!

E lá tive de ir dormir, que no dia seguinte faria o longo percurso até casa, o que, se eu não me perdesse com nada, faria uns novecentos e tal quilómetros… mas eu “perco-me” sempre, nem que seja só um bocadinho!

Fim do trigésimo oitavo dia de viagem…